Horta doméstica
Uma horta doméstica pode se adaptar à área disponível, ainda que o espaço seja muito modesto.
O importante é saber que não é difícil ter uma pequena horta!
Existem hortas em vasos de 80 cm x 20 cm. Por exemplo, com 4 vasos nessas dimensões pode-se cultivar:
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1 vaso de salsinha;
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1 vaso de cebolinha;
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1 vaso com manjericão + alecrim + sálvia (ou orégano); e
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o último vaso com pimenta (2 pés) + capim cidrão + hortelã.
Essa estrutura pode ser montada até em apartamento!
Porém, nesse tópico vamos pensar numa pequena horta numa casa de campo, lembrando de sempre começar de maneira moderada para aprender com a experiência!
A Embrapa possui um centro de pesquisa dedicado às hortaliças, Embrapa Hortaliças, com um vasto material de consulta, inclusive diversas publicações para download desde as básicas até as mais aprofundadas.
No local destinado às publicações, onde pode-se obter até informações profissionais, inclusive para quem quer trilhar para uma produção comercial.
Para o nosso propósito, recomendamos especialmente 4 publicações:
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Horta em Pequenos Espaços, publicado pela Embrapa Hortaliças;
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Cultivo de Hortaliças, publicado pela Embrapa Meio Ambiente;
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Hortaliças publicado pelo SENAR; e
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Catálogo Brasileiro de Hortaliças – saiba como plantar e aproveitar 50 das espécies mais comercializadas no país, publicado pelo SEBRAE e pela Embrapa Hortaliças.
Preparação do local
É importante que o local onde deseja-se instalar uma horta doméstica não tenha uma declividade muito pronunciada.
Outra característica importante é que haja água e eletricidade perto do local.
A eletricidade será necessária se houver necessidade de instalação de um sistema de irrigação autônomo temporizado, em função da chácara ficar sozinha durante a semana.
Recomenda-se a instalação de tela de plástico para sombreamento, sombrite, para que possa se proteger parte da incidência do sol de verão.
Numa horta doméstica o sombrite pode ser instalado de maneira rudimentar. No caso de instalações profissionais, ver nesse mesmo tópico, o item Estufas.
Uma estrutura rústica necessita apenas de tela de proteção, arames, moirões e sombrite.
Lembre-se que, se possível, a horta deve ser cercada com cerca de galinheiro, com 1,2 m de altura, para evitar a entrada de animais domésticos.
Veja um modelo na figura!
Preparação do solo
Os locais para plantio podem ser canteiros, leiras ou camalhões, covas e covas embaixo de estaleiros.
O segredo é corrigir o solo com calcário dolomítico e termofosfato (procurar não misturá-los), e acrescentar matéria orgânica curtida (húmus de minhoca, esterco bovino, esterco de frango, etc.).
A publicação Horta em Pequenos Espaços, publicado pela Embrapa Hortaliças, dá uma receita prática de adubação.
Para áreas maiores, a proporção de corretivos e a adição de adubos deve ser orientada por Engenheiro Agrônomo!
Para mais informações sobre fertilidade do solo ver o tópico adiante Nutrição Vegetal e Fertilidade do Solo.
Etapas
Primeiro deve-se espalhar os corretivos, calcário dolomítico e termofosfato, e depois, com enxadão, revolver a terra por uns 25 cm de profundidade. A melhor época para correção do solo é no outono / inverno.
Posteriormente (se der, após uns 20 dias) incorpora-se a matéria orgânica.
Canteiros
Deve-se levantar um canteiro retirando terras dos locais destinados à circulação, chamados de ruas.
Os canteiros podem medir 1 metro de largura por 25 cm de altura. O comprimento varia conforme a disponibilidade de área.
Em seguida deve-se nivelar a superfície do canteiro e deixar descansar por uns 10 dias (isso porquê a matéria orgânica pode não estar curtida totalmente).
Lembre-se que é de grande importância a construção do canteiro ser em nível em relação à declividade do terreno, para evitar erosão e problemas com perda de terra.
Plantas de canteiros são: cebolinha, salsinha, alface, chicória, rabanete, beterraba, cenoura, acelga, almeirão, rúcula, salsão, alho, cebola, entre outras.
Leiras ou camalhões
São montes de terras indicados principalmente para plantio de batata doce, mandioquinha-salsa (batata baroa) ou gengibre.
O preparo deve ser idêntico ao do canteiro, porém a largura é pequena, uns 10 cm, e a altura deve ser maior, uns 35 cm. Em termos de fertilidade utiliza-se o mesmo método dos canteiros.
Covas
São locais ao nível do solo, diferentes de canteiros e leiras, cuja terra é revolvida em 25 cm de profundidade (quando incorpora-se os corretivos e, posteriormente, matéria orgânica) deixando uma boca de 30 cm de diâmetro.
São destinadas ao plantio de hortaliças assemelhadas a arbustos, como couve, brócolis, repolho, couve-flor (todos da mesma família), quiabo, alcachofra, abobrinha de moita, jiló, pimentão, berinjela, taioba, inhame, etc.
Covas embaixo de estaleiro
São covas com varas ao lado que servem para sustentar hortícolas trepadeiras, como chuchu, vagem, tomate, etc.
Atenção
O manuseio de enxada / enxadão deve ser realizado com cuidado e atenção, pois pode causar ferimentos profundos.
Além disso, deve-se considerar que sua utilização é cansativa e causa bolhas nas mãos nas primeiras vezes, que se transformam em calos protetores depois de alguns dias de trabalho. Não pode-se dispensar o uso de equipamentos de proteção como botas, luvas e óculos.
No início as costas doem, para o que se sugere alongamentos antes do início do trabalho. O uso de protetor solar também é indispensável.
Simulação de sequência das espécies plantadas
Esse item exemplificará um modelo de implantação de horta.
O objetivo é transmitir alguns fundamentos, como se fossem um “passo a passo”, a partir dos quais poderão ser aprimorados e replicados em diversos métodos de cultivos.
Basicamente pode-se plantar hortaliças por meio de sementes, de mudinhas (em bandejas) adquiridas em casas agropecuárias, de ramos, de bulbos ou de frutos de outras plantas.
O plantio por meio de mudinhas adquiridas em casas agropecuárias é fácil de pegar / brotar e mais rápido de produzir.
Os croquis ao lado mostram um modelo de horta de 15 m² (3 m x 5 m): 3 canteiros, 9 covas e 1 leira.
Note que entre os locais de cultivo existem carreadores ou ruas de acesso de 20 cm de largura. A largura dos carreadores pode aumentar conforme a disponibilidade de área e o conforto desejado de acesso ao local onde as hortaliças se encontram.
Canteiro nº 1
Plantar metade de cebolinha e a outra metade de salsinha. Pode-se adquirir as bandejinhas de mudas em casas agropecuárias (ou pode-se optar por comprar sementes).
A cebolinha produz o ano todo em localidades de clima mais ameno, porém em locais de clima quente o melhor período vai de fevereiro a julho, embora haja variedades adaptadas para o ano todo.
A colheita se dá também entre 1,5 a 2 meses.
Como o espaçamento é de 20 cm x 10 cm, na metade do canteiro cabem 50 mudas. Entre 1,5 a 2 meses pode-se iniciar a colheita.
A salsinha também produz o ano todo e o espaçamento pode ser o mesmo da cebolinha, o que resulta em mais 50 mudas de salsinha.
Canteiro nº 2
Pode ser plantado 2/3 de alface e 1/3 de rabanete.
A alface produz o ano todo, embora nos meses mais quentes e úmidos seja mais difícil devido a incidência de doenças. A colheita inicia-se entre 30 e 45 dias depois das mudinhas serem plantadas.
Pode ser plantada no espaçamento de 20 cm x 20 cm, desse modo em 2/3 do canteiro, 2 metros lineares, suportam 35 mudas.
O rabanete deve-se plantar a partir de sementes. A época favorável é entre abril e junho e a colheita se dá entre 30 e 35 dias.
Em 1 m² (1/3 do canteiro) deve-se fazer 4 sulcos (com a ponta da enxada) com 20 cm de distância entre eles, onde se plantam as sementes, 1 a cada 5 cm.
Como a semente é muito pequena, geralmente planta-se uma população maior que a recomendada, neste caso deve-se retirar algumas plantas após a germinação (desbastar).
1 saquinho de 2 gramas é o suficiente, porém pode-se comprar 4 gramas de sementes para não faltar.
Canteiro nº 3
Pode-se plantar 1/2 de cenoura e a outra 1/2 de beterraba.
A cenoura deve ser plantada por sementes, sendo que a época favorável é entre abril e junho. A colheita se dá a partir de 3 meses.
Em 1,5 m² (1/2 do canteiro) deve-se fazer entre 6 e 7 sulcos distantes em 20 cm cada. As sementes são distribuídas espaçadas em 10 cm.
As sementes da cenoura também são pequenas, o que impossibilita precisão no sulco de semeadura. Caso a população seja muito grande, deve-se efetuar a retirada de plantas (desbaste).
A beterraba pode ser plantada por meio de sementes ou aquisição de mudas em bandejas. A colheita inicia-se entre 2,5 meses a 3 meses.
O ideal é que a temperatura seja entre 10°C a 20°C. Altitude inferior a 400 m pode-se semear entre abril e junho, localidades acima de 1.000 m o período vai de fevereiro a novembro. Entre 400 m e 1.000 m utiliza-se os limites aproximados anteriores.
Em 1,5 m² (1/2 do canteiro) planta-se cada muda deixando-se 20 cm entrelinhas e 10 cm entre plantas, que totalizará 50 mudas no canteiro.
Covas e leiras
Nas covas podem ser plantados 3 pés de couves e 4 quiabos e 2 chuchus, enquanto que na leira pode-se plantar 2 batatas doces.
As couves são semeadas em mudas maiores adquiridas em saquinhos, enquanto que os quiabos vêm em bandejas podendo-se semear 2 mudas por cova.
A couve pode ser colhida a partir de 2 a 3 semanas, tendo o cuidado de retirar as folhas mais velhas.
A colheita do quiabo inicia-se em 45 dias.
Quanto aos chuchus e as batatas doces, podem ser utilizados os já brotados que estão em casa, na feira ou na prateleira do supermercado.
O chuchu é uma trepadeira e o plantio de duas unidades são suficientes para se alastrar e produzir muitos frutos.
Deve-se lembrar que os chuchus devem ser conduzidos através da cerca da horta, ou em um estaleiro para sustentá-lo (estrutura de sustentação).
A batata doce é uma raiz tuberosa cujos ramos são rasteiros. É uma planta rústica e produtiva.
Pode-se plantar a batata doce já brotada em um local separado e colher os ramos de 40 cm que são replantados nas leiras a uma profundidade de 20 cm.
Produção
O modelo acima produzirá 10 tipos de hortaliças: salsinha, cebolinha, alface, rabanete, cenoura, beterraba, couve, quiabo, chuchu e batata doce.
Para conhecer outras plantas alimentares, a Embrapa Hortaliças publica em seu site folhetos das hortaliças convencionais e das não convencionais.
Não esqueça de separar locais para plantar chás e temperos, como erva cidreira, boldo, manjericão, alecrim, sálvia, orégano e uns pés de pimenta.
Caso sua área seja menor, adapte os tipos e quantidades de plantas. A partir da implantação de uma horta qualquer que seja o tamanho, a experiência vai aumentando e os erros vão diminuindo.
É só começar!
Tratos culturais
Recomenda-se sempre manter as ruas cobertas de matéria seca oriunda da poda de outras plantas, que também devem ser colocadas no meio dos canteiros.
A matéria seca tem 3 finalidades: retenção de umidade no solo, servir como refúgio de inimigos naturais de pragas e fonte de matéria orgânica, à medida que se decompõem.
Recomenda-se efetuar irrigação bem de manhãzinha, uma vez que as regas no final de tarde podem manter a umidade muito elevada durante a noite e aumentar a incidência de doenças.
Retirar manualmente as ervas daninhas para que não haja concorrência por insolação e nutrientes do solo.
Pragas e doenças
As principais pragas são: pulgões, formigas, cochonilhas, lagartas, moscas brancas, percevejos e caramujos.
A foto a seguir é de uma voraz devoradora de pulgões! Nunca mate uma joaninha!
As doenças são causadas por fungos, vírus, bactérias e nematoides.
Além da utilização de defensivos químicos (sempre com orientação de Engenheiro Agrônomo), recomenda-se escolher local sem excesso de umidade, praticar a rotação de cultura, incorporar / enterrar ou retirar de perto da horta as plantas doentes, manter a população baixa de insetos e ácaros vetores de doenças e manter cobertura de palhada no solo.
Existem muitas publicações que auxiliam na identificação e no combate as pragas e doenças, inclusive com recomendações de práticas alternativas que não agridem o ambiente.
Para isso consulte as Fichas Agroecológicas – Sanidade Vegetal (39 fichas com as mais diversas técnicas) publicadas no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Outro material mais técnico é o livro Defensivos Agrícolas Naturais – Usos e Perspectivas publicado pela Embrapa.
Também recomenda-se a consulta ao Guia para o reconhecimento de inimigos naturais de pragas agrícolas, editado pela Embrapa em 2013.
Adiante aqui no Manual da Chácara, no tópico Sanidade Vegetal, serão aprofundados os temas relacionados as pragas e as doenças.
Estufas
As estufas geralmente são construídas para abrigar hortaliças e flores (tipo orquidários).
Têm a finalidade de controlar a incidência de sol, umidade, pragas e doenças.
Também chamadas de casas de vegetação, as estruturas podem ser simples ou rústicas, construídas somente com uma cobertura telada (sombrite) para evitar a incidência direta de sol, ou ambientes completamente controlados com coberturas de plásticos transparentes e laterais com cortinas retráteis.
A técnica mais complexa permite a incidência de luminosidade solar suficiente para realização de fotossíntese, impedindo o excesso de chuva, que é substituída por irrigação.
A temperatura também é controlada por meio de cortinas retráteis e ventiladores.
Para uma estufa em uma chácara, que não se destina ao uso comercial, pode-se pensar somente em cobertura e laterais teladas, o que impede a luminosidade excessiva solar, diminui a temperatura e evita a entrada de pragas.
Como a ventilação será prejudicada, pode-se esperar aumento na incidência de doenças fúngicas, mas diminuição de doenças virais, dada diminuição da presença de insetos vetores desses organismos.
No caso de uma estufa rústica só com tela de sombreamento deve-se escolher qual quantidade de sol que se deseja evitar, desse modo uma tela de sombreamento 30%, bloqueia-se no mínimo 30% de luminosidade média (malha mais larga).
No caso de deixar o ambiente menos claro, pode-se optar por uma tela de sombreamento 75%, que evita a incidência solar em 75%.
Regiões com muita incidência de nuvens e temperatura amena pode-se optar por um sombrite 30% a 50%, por outro lado localidades de clima quente e grande incidência de radiação solar, como Centro-Oeste e Nordeste, deve-se optar por sombrites entre 50% a 75%.
Para se aprofundar em estufas rústicas e profissionais pode-se consultar os seguintes livretos:
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Estufa Ecológica – Uso de Bambu em Bioconstruções, publicado pelo Centro Paranaense de Referência em Agroecologia – CPRA em conjunto com a Secretaria do Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná;
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Estufas de Baixo Custo - Modelo PESAGRO Rio, publicado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro; e
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Construção de Estufas para Produção de Hortaliças nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, publicado pela Embrapa Hortaliças.